sábado, 18 de novembro de 2017

Desafio Jedbike 600 km

Depois de adiar por problemas técnicos, acabamos marcando o desafio Jedbike 600 km, meio receosos com o clima que já está pensando no verão, decidimos marcar, se não fosse agora, talvez só para o próximo ano. No ultimo dia 11/11 às 01:30 da manhã demos a pedalada inicial da louca trip. Apesar de ser um roteiro conhecido, bate e volta à Tubarão, o trio formado por Canela, Vagner e eu já se encontrava bem animados pra alguém que não dormiu. 



Fizemos um uniforme especial alusivo ao evento, com o patrocínio da Podium Sports Wear, a empresa que faz os mantos Jedbike e também a PeçaCar centro automotivo que vem sempre apoiando o ciclismo amador. Saímos com uma fina garoa, mas logo passou e as previsões para o dia foram se confirmando, ou seja, muito calor. Fizemos uma tocada boa até a Auto Pista, só paramos pra um cafezinho e já partimos, paradinha de 3 minutos. 


Em 2015, quando estava fazendo a série do Audax, recebi um conselho de um grande ciclista de Joinville, o Cabelo, ele me falou que numa prova de longa duração não devemos pensar nela toda, mas em partes, assim dividimos a prova em pequenos objetivos, no nosso caso, o primeiro objetivo era Balneário Camboriú, onde teria uma pausa pra lanche no último posto antes do Morro do Boi. Ao chegar na cidade a penumbra do amanhecer tira um pouco a visão, o Vagner se perdeu na subida do acostamento e foi pro chão. Em câmera lenta, pelo menos pra nós, pra evitar que eu atropelasse o amigo, freei forte, quase fui pro chão também. Mas não foi nada grave, só um susto, mas deixou ele desestabilizado por alguns quilômetros. Quando saímos do posto do café o dia já estava claro, e não teria mais o problema da visão do amanhecer.




Com o nascer do sol depois do Morro do Boi, tínhamos uma certeza, o dia seria quente, então o jeito era adiantar o máximo possível o pedal, para não sofrer tanto na estrada. Depois do morro vem uma parte chata até a entrada de Tijucas, ali baixamos a cabeça e pedalamos. Como o tempo estava dentro do planejado, fizemos um pequeno desvio em Biguaçú pra passar no Aqueduto e também pegar água no Restaurante, mas ainda estava fechado. 






Logo que chegamos a São José, o trânsito caótico que precede a cidade confirmou que estávamos no caminho certo. Passamos às 09:00 da manhã de sábado, os carros ocupam as faixas da rodovia e também das marginais, para tudo. 


Logo chegamos em Pachoça e fizemos uma paradinha no Posto Cambirela, aos pés do Monte que leva o mesmo nome. Ali era o segundo objetivo do dia. Ao sair percebemos o pneu do Canela furado, fizemos a troca sob a imponência do Cambirela, morro este que já recebeu sua cota de neve em 2013, virou notícia nacional.
 


Um ponto de preocupação da galera estava por vir logo em seguida o Morro dos Cavalos, subida sem acostamento e com pouco respeito por parte de alguns motoristas, aqui é ombro a ombro com os caminhões, um deles me tirou da pista, me equilibrei pra não cair em umas pedras, mas em compensação, quando estava finalizando a subida uma carreta bloqueou a estrada e esperou em subir, logo já veio a descida e o acostamento.


Do outro lado do morro começou um vento contra, que minou nossas energias, fizemos os primeiros 200 km em menos de 9 horas total com paradas, com o vento nos empurrando pra trás já tínhamos a certeza que a média cairia muito. Chegamos no túnel e até senti saudade do vento, o lugar é longo e extremamente quente, sem corrente de ar, me senti sufocado ali.





Em Paulopexxx (Paulo Lopes) o vento não tinha a mínima chance de ceder, procuramos um local pra almoçar, paramos no Restaurante Engenho, mas a comida era por quilo, prejuízo na certa para o trio esfomeado. A recepcionista nos indicou o restaurante Penha que fica do outro lado da rodovia, esse lugar eu já conhecia, partimos pra lá. Depois do almoço nos ajeitamos na mesa mesmo e tiramos um cochilo, enquanto meus amigos dormiam, tirei uma foto pra zuar depois, aí fui dormir, só que eles acordaram antes de mim, e fizeram questão de registrar também. 




Depois da cesta da beleza, ou não, partimos com um sol de rachar, o vento deu uma trégua, mas o calor era forte de mais, ao passar por Imaruí, terra natal do meu pai e tios, mandei uma foto pra família que ficaram admirados com a loucura.


Um outro objetivo a ser alcançado era a ponte Anita Garibaldi, não lembrava o quanto era longe de Imaruí, a cada curva tinha a esperança de ver a ponte ao longe, mas vinha curva subida e descida e nada de avistar a ponte, sempre passei ali de carro e tinha a impressão de ser logo ao lado. Quando avistamos podemos até vibrar de alegria. 







Dali pra frente estava bem perto do término da primeira etapa, é só atravessar Capivari de Baixo com suas usina termelétrica e logo chega a Tubarão, o destino da primeira parte era finalizar na casa da vó do Canela, já estive de bike lá em fevereiro de 2016 quando viemos da serra do Rio do Rastro pedalando pra Joinville. Chegamos às 18:00 horas tomamos banho e um café, descansamos um pouco, contamos as histórias do que rolou no dia e às 20:00 horas partimos pra segunda etapa, Joinville é logo ali.





No retorno a ponte já estava iluminada, cartão postal na entrada de Laguna, terra da guerreira pela independência da República Juliana, teve a ponte em homenagem à sua luta e grande importância na história do Brasil.





Em Imbituba o corpo já dava seu sinal de cansaço programamos uma parada no posto Santa Rosa, quando estava bem próximo senti que o pneu traseiro se desestabilizou e logo começou a esvaziar, consegui chegar no posto a tempo, mas antes partimos pra janta, depois de abastecidos, decidimos tirar um cochilo de 30 minutos, colocamos o celular pra despertar, deitamos no chão mesmo, o Canela sempre fala que pra eu dormir basta fechar os olhos, e nesse dia não foi diferente. Depois de dormir que fui trocar o pneu, o problema que os dois não conseguiram dormir, tinha muito barulho de caminhões entrando e saindo do posto. 



Tocamos, quando chegou na entrada de Imaruí o sono pegou o Canela, a ponto de não conseguir pedalar, tivemos que parar no posto na entrada da cidade, a parte de trás do posto estava em obras, procuramos um canto no meio de ferramentas e ferro da construção, achamos seis cadeiras, colocamos uma na frente da outra e improvisamos uma cama. Ali decidimos dormir mais tempo, colocamos o celular pra despertar em 01:40 depois, quando despertou o frio estava muito forte, colocamos o pernito e corta vento, mas era de bater o queixo de frio. Tocamos como deu, o ritmo já não era como o de outrora, um silêncio arrebatador tomou conta do grupo, lutando contra o vento frio da madrugada só esperava uma coisa, chegar no Posto Cambirela em Palhoça. Quando chegamos no Morro dos Cavalos estava em meia pista, tinha um isolamento, o que nos possibilitou subir na pista em obras, um funcionário da manutenção da via nos informou que tinha máquinas na descida do morro, passamos por eles e logo chegou no tão almejado posto, pra nossa alegria vimos a placa indicando posto 24 horas. Eram 04:30 da manhã fizemos um lanche, eu pedi pra atendente se poderia dormir ali, um sofá fazia um U ao redor da sala de café, como não tinha cliente ela autorizou, expliquei que estávamos fazendo uma prova, ela entendeu e cada um procurou um canto do sofá, acordamos com o sol entrando pela vidraça da loja de conveniência, e mais uns clientes curiosos, um deles esperou nós acordar pra ver nosso destino, após umas conversas, falou que tinha vontade de fazer uma aventura assim.




O sono nos deu uma energia extra, recomeçamos o pedal. As forças voltaram e o senso de estar cada vez mais perto de casa nos animou. Tocamos nas primeiras horas sem muita parada, até que o sol saiu com tudo, perto das 08:00 horas já estava muito quente, parávamos em cada posto pra trocar a água da garrafinha, não dava tempo e já estava quente novamente. Chegamos em Tijucas num restaurante já conhecido, eram 10:45 horas o serviço iria começar às 11:00 horas, decidimos esperar, já que tinha uma sombra fresca bem na entrada do restaurante. Descansamos e depois foi servido o almoço, quando partimos nossa intensão de chegar no pedágio de Porto Belo, logo ao lado, o pneu do Vagner furou, enquanto ele fazia a troca dentro da sala de recepção dos usuários da via, o cara não é fraco, só troca o pneu no ar condicionado, eu e o Canela pegamos uma sombra e deitamos, eu dormia antes mesmo de deitar. Mais um cochilo, repomos a água e partimos, rumo ao próximo posto pra pegar mais água gelada. 





E se não bastasse o calor, um vento forte nos acompanhou de Tijucas até Itajaí, foi bem exaustivo este trecho. Em Penha fizemos uma reposição energética num rodízio de caldo de cana, isso nos deu aquele gaz final, pra nossa sorte o vento foi mudando de direção, passou a soprar na lateral, em alguns momentos ajudava, em outros atrapalhava, mas ainda foi melhor que o vento no peito. Nesse trecho a galera voltou com o sangue nos olhos, quando chegou em Barra Velha entramos na marginal, porém tinha muito movimento, numa dessas saídas da praia tive que parar a bike, os dois conseguiram passar, eu fui tentando alcança-los mas o transito impedia de correr, no primeiro posto depois da Havan achei que tinham entrado para reabastecer de água, procurei eles e não achei, voltei pensando que iriam parar no pedágio, também não estavam, fiquei imaginando que pararam em algum lugar e passei reto, tentei ligar e ninguém atendia, toquei até o posto Sinuelo e encontrei somente o Vagner, tinha perdido o Canela, tentamos ligar, mandamos mensagem e nada, aproveitamos a parada pra fazer um lanche e depois pau na tábua pra vencer os últimos 40 km. 



O cansaço não era maior que a vontade de chegar, tentamos a todo o trecho tocar acima dos 30 km/h quando estava na divisa de Araquari e Joinville recebemos a mensagem do Caneludo que estava nos esperando no SOS Usuários na entrada do Floresta. Quando nos aproximamos, na ultima subida antes do SOS o meu pneu furou e esvaziou rápido, desci da bike e fui correndo uns 300 metros. Quando fui ver o estrago, um prego grande atravessou o pneu, faltando apenas uns 5 km pro final. fizemos a troca rápido e só joguei a câmera dentro da mochila e saímos, agora com a trupe reunida para a linha de chegada que seria o pórtico da city.


Eu sabia que minha esposa iria me esperar, mas pra nossa surpresa, estava ela e as crianças com a camisa casual Jedbike e com um cartaz na mão. Foi emocionante terminar o desafio assim. Depois fizemos a entrega de medalha do desafio, nos abraçamos, pra nós isso teve peso olímpico. 






No auge da emoção, esqueci de tirar foto com a minha família, mas deixo meu agradecimento à Andreza, além de esposa é apoiadora, incentivadora, sabe compreender que os desafios nos deixam vivos, não deve ser fácil ser esposa de ciclista. Enquanto terminamos e já atualizamos as redes sociais quase em just in time, começamos a receber as mensagens dos amigos, todos nos felicitando, uma delas em especial a do Dr Jean Romagnolo que também é ciclista, nos parabenizando e nos presenteando com uma sessão de Osteopatia. Marcamos para a terça feira, saímos da sessão leve e prontos pra outro desafio, foi uma sessão de crocância, cada movimento fazia um crack, mas colocou tudo no lugar, foi muito bom. 



Fortaleço meus agradecimentos à Deus por ter dado força e determinação, à minha esposa e aos filhos, aos dois malucos que aceitaram o desafio, à vó do Canela pela recepção em Tubarão, ao Dr Jean, ao Rodrigo da Podium pelo patrocínio das Camisas, ao Sid da Peça Car. Foi um desafio pra ficar na história valeu a pena perseguir e alcançar este objetivo, levaremos na memória cada pedalada e lembraremos de que toda vitória é precedida de muito esforço.

 



A medalha do Desafio Jedbike 600km já descansa junto com a de outros desafios, abraços e até a próxima aventura.


8 comentários:

  1. Jed que grande desafio, que ótimo relato, que belas fotos! Só quem tava lá pra sentir realmente toda dificuldade de uma longa distância dessa! Vocês 3 estão de parabéns! Obrigado por compartilhar conosco sua Vitória.

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  2. Baita desafio para a mente e para o corpo. Esse é para poucos. Parabéns a todos por concluírem o desafio proposto e por superarem cada obstáculo.

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  3. Parabéns meus caros, tipico relato de Randonneur. Showzaço de pedal.

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  4. Parabéns pelo desafio Jed, com certeza não foi fácil, mas foram muito bem, quando crescer vou fazer uns pedais insanos desses... hehehe.
    Abraços

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    1. O Cabelo apareceu, abraço irmão, seu conselho em 2015 tem sido válido pra mim até hoje.

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