terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Trekking Trilhos do Rio Natal

Quando os roteiros de bike parece já estar muito manjados decidimos incrementar, o mesmo local só que de modo diferente. No ultimo sábado o Mr Canela e eu decidimos por em prática um plano já marcado e remarcado várias vezes desde o ano derradeiro. Como o Canela está
 "des zicado"  isto é, sem bike, decidimos fazer um trekking, ele já vem treinando caminhadas e corridas, eu fui "peba" mesmo, com pouco treino, mas curti muito. Fomos de carro até Corupá, estacionamos ao lado da estação de trem e após um café da manhã, sem café, pois eu esqueci a garrafa em cima da mesa. Comemos um pedaço de torta que a dona Andreza preparou e partimos pelos trilhos em direção ao Rio Natal. Segundo o site http://www.estacoesferroviarias.com.br/sc-saofranc/rionatal.htm a linha São Francisco, que liga a cidade de São Francisco do Sul ao planalto  começou sua construção em 1906. No ano de 1910 chegou a Hansa (hoje Corupá) e em 1913 chegou a Três Barras e em 1917 à Porto União. Partimos do km 95 na estação, o trem estava manobrando então cuidamos e apuramos nossa audição pra ouvir o trem se aproximando, andamos 1:30 quando ele passou por nós.





Já nos primeiros metros da caminhada lembramos do Filme Conta Comigo (1986), que conta a história de quatro meninos que saem em uma jornada pelos trilhos em busca do suposto corpo de um menino de sua idade que o trem matou. A maior parte da história se passa nos trilhos do trem. Vale a pena resgatar esse clássico dirigido por Rob Reiner. 





Vista do Pórtico do Rio Natal do outro lado do rio.

A estrada vai margeando o lado esquerdo do rio Humbolt, essa parte era nova pra nós, as corredeiras do rio impressionavam, ideal pra rafting. Em alguns pontos a estrada foi cortada no meio das pedras, deixando uma parede em cada lado do trilho. 







Passamos por várias pontes pequenas, por lugares com pouco abrigo caso o trem viesse, mas tivemos muita sorte, o trem passou por nós num local bem aberto. 





Ouvimos o barulho nos trilhos, de repente lá vem ela, a locomotiva da Rumo soltando fumaça serra acima, seguida por duas Locomotivas da ALL, era um comboio tão grande (pena que esquecemos de contar os vagões) que no meio tinha mais três locomotivas ajudando na tração.


 Pedi um buzinaço, mas o maquinista não foi com a minha cara.


A passagem do trem nos trouxe uma certa tranquilidade, por um bom tempo não teríamos outro trem, e logo chegaria dois pontos esperados na expedição, o primeiro era a Ponte sobre o Rio Humbolt no km 106 e logo depois o túnel com 139 metros no km 107.











As curvas iam ficando cada vez mais frequente, sinal que estamos subindo, a inclinação de altitude geralmente não passa dos 5 %, isso faz com que os trilhos serpenteiem por entre as montanhas aumentando ainda mais o charme da caminhada. Entre a ponte e o túnel avistamos um animal que vinha em sentido contrário ao nosso, de longe não sabíamos o que era, corremos ao seu encontro pra nos aproximar, quando ele percebeu correu pra tras novamente e logo se embrenhou numa trilha de caça. Ao pesquisar a fauna da região descobrimos que se tratava de uma Irara, pequeno carnívoro que devora as desafortunadas galinhas da região. 

Foto da internet.

Ao aproximarmos do túnel já fomos preparando nossas lanternas, gostaria de ter uma lamparina pra levar e me sentir como os primeiros exploradores, mas vai de lanterne mesmo. O local é extremamente escuro, apesar de ter 139 metros ele é curvo, o que faz com que a tal a luz do fim do túnel só se vê da metade pra frente. A nictofóbica travessia se deu em alguns minutos, não queria correr o risco de encontrar um animal andando erroneamente pela escuridão ou até mesmo outro trem.







Pra nossa surpresa o fim do túnel fica a apenas 50 metros do cruzamento com a Estrada Rio Natal, passamos por ela tantas vezes de bike e nem imaginamos que depois da curva se escondia algo tão legal. Quando voltar lá de bike iremos parar neste ponto. A estrada de ferro serpenteou por desfiladeiros, encostas, e chegamos no nosso destino no km 117 a Estação do Rio Natal, aliás, as ruínas da estação, o local está abandonado e depredado. Uma pena um grande marco da história em escombros. O desleixo das autoridades e a cumplicidade da população fará com que esses prédios históricos sejam, num futuro breve, apreciados apenas por fotos. 







Foto do acervo da ABPF (Assossiação Brasileira de Preservação Ferroviária) em 1930.

A estação foi inaugurada em 1913, viveu seu auge, e depois foi deixada de lado, no entanto reviveu uma bela reforma, no ano de 1999 foi o set de uma filmagem do longa "O Preço da Paz" que conta a história do Barão do Cerro Azul, figura importante na guerra dos Federalistas, entre maragatos (federalistas) e Pica Paus (republicanos) na época de Floriano Peixoto. Foi só desligarem as câmeras que o vandalismo voltou. Finalizamos a parte de ferrotrekking em 17 km em 3:40 horas.
Subimos pela estrada até a igreja Rio Natal, tiramos uma foto, fizemos um lanche na lanchonete Sininho que fica entre a estação e a igreja e logo começamos nosso caminho de volta, agora pela estrada mais 18 km de sobe e desce.

Ao chegar na estação constatei que o meu tênis faleceu, já estava velhinho, não aguentou as pedras e dormentes do caminho. Amarrei o cadarço por baixo e segui em frente. 




O sobe e desce na estrada no calor do meio dia foi bem cansativo, tentamos correr um pouco, mas as descidas dificultavam a corrida, então foi praticamente todo caminhado, também os trilhos já demandam bastante energia. Chegamos no Pórtico do Rio Natal e deu um renovo, dali pra frente não falta muito pra chegar na cidade que desta vez passava a impressão que não chegava nunca.




Ao chegar no pátio da estação tiramos uma foto na locomotiva estacionada e já providenciamos nosso retorno pra Joinville. O Canela entrou no carro e se apagou, quando eu chamava ele pra conversar, ele respondia qualquer coisa e já estava roncando de novo. 



Deixei ele em Pirabeiraba e segui pra casa, cansado mas muito feliz, foram 17 km nos trilhos e 18 km pela estrada finalizando assim minha maior caminhada 35 km, já pensando em alguma maior. Foi um sonho realizado, inúmeras vezes remarcado mas acho que aconteceu na hora certa. Agradeço ao Canela por ser esse cara do tipo: "vamos?" vamos.