segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Desafio das Serras e Litoral 3º e Último Dia

Por mais que tentasse, foi impossível fazer silêncio na madrugada, andei nas pontas dos pés, não puxei a descarga no banheiro, abri e fechei o zíper dos alforges o mais devagar possível e o suficiente pra enfiar a mão e pegar o que precisava. No fim não teve jeito, sempre fazia barulho. Às 04:30 horas da manhã qualquer lenço que caia no chão é um estrondo. Sai de casa e tentei arrumar tudo do lado de fora, pra não correr o risco de ser expulso da casa dos tios do Canela. A brisa fresca da manhã me fazia lembrar do vento contra no dia anterior. À medida que nos aproximávamos da Rodovia BR 101  vi que minhas esperanças o vento levou. O mesmo que soprara em nosso peito não o faria diferente. Saímos de Imbituba e nosso grande objetivo do dia chegar são e salvos na terrinha Joinville. Mas sem café não se vai a lugar algum. Por isso na primeira bodega AM PM do Ipiranga paramos pro desjejum.




Servidos de café saímos pra enfrentar o gigante da distância acompanhado do vento. Como foi citado nos posts anteriores nossa trip seria composta de três pessoas. Por problemas técnicos o Itamar não pode estar presente nos dois primeiros dias, mas teria sua participação no terceiro dia. Como o ex cabeludo estava de férias em Floripa, marcamos de nos encontrar na entrada da capital catarinense às 08:30 horas. O que não previmos era que o vento se tornaria um grande empecilho pra manter a pontualidade, até mesmo um inglês teria problema. O dia clareou mostrando as belezas do sul, céu azul com nuvens, o litoral catarinense tem seus encantos.



Em alguns trechos era necessário pedalar nas descidas, pra bike não parar. Seguimos assim, com o cansaço acumulado, depois de dois dias pedalados, qualquer brisa parecia um furacão. Quando nos aproximamos do Morro dos Cavalos em Palhoça vimos uma placa que nos deixou temerosos. A placa indicava trecho de aclive sem acostamento. Sem muito o que fazer o negócio foi enfrentar. Quando começamos a subir pela pista, estranhamente vimos os carros passando pra outra pista e depois que nos ultrapassavam voltavam pra pista da direita, muitos buzinavam pra nós. Sem entender, e num lance rápido vimos atrás de nós um giroflex ligado, pra nossa surpresa um carro da Auto Pista Litoral Sul estava fazendo nossa escolta. Nos sentimos os profissa da bike, a galera buzinava, só não sei se xingavam ou elogiavam, o fato era que eu e o Canela pedalamos seguros. Foi o trecho mais seguro de toda a viagem. Um fato desse teve seu devido elogio no site da empresa de pedágio e também os selfies não poderiam faltar.



Depois da subida veio a descida também sem acostamento. O carro nos acompanhou em todo o trajeto, depois um buzinaço e nossos gestos de gratidão seguiu seu caminho. Paramos num posto que tem um mirante, fica posicionado em frente ao Morro Cambirela, do mirante tem uma visão linda do mar e de Floripa.






A parada foi rápida, só pra abastecer as garrafas com água, que pra nossa surpresa não tinha, tocamos pois o Itamar estava preocupado, nosso atraso estava acima do aceitável. 



Encontramos nosso amigo no posto ao lado do Shopping no acesso à ilha. Estava ansioso pra pedalar. 


Aproveitamos a loja de conveniência pra tomar a Coca Cola mais gelada que o local dispunha. Enquanto isso o vento não dava trégua. Sempre no peito. Pedalamos pelo trânsito caótico de São José, procuramos manter uma fila indiana pela marginal, mas os carros saiam da rodovia com velocidade muito alta, totalmente incompatível com o local. Seguimos igual a escoteiros, sempre alerta. Em Biguaçu a situação voltou a níveis toleráveis, aproveitamos pra conhecer o Aqueduto de São Miguel, construído por escravos no século XIX, em formas de arcos a edificação portuguesa levava água de uma represa até o litoral. precisou ser demolido pra construção da Rodovia BR 101 nos anos 60, atualmente resta somente quatro arcos e foi tombado pelo Iphan (Institulo do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).






Voltamos pra rodovia, aliás estava chato trafegar por ela, afinal passamos mais da metade da viagem na BR 101. O local é repleto de paisagens lindas, isto tirava a concentração no vento que insistia e renovava um pouco as forças.






Paramos pra almoçar em Tijucas. um restaurante anexo a um posto de gasolina, comida boa e preço baixo. enchemos a barriga e descansamos em um sofá confortável até demais, claro que cochilei, tempo suficiente pro Itamar zoar. como sempre.


Com esse caras por perto é melhor dormir de olhos abertos. Depois do descanso saímos preguiçosamente pra estrada. O calor estava forte, mas estávamos cada vez mais perto de casa. Isso dava um ânimo extra.








Seguimos fazendo paradas providenciais pra tomar refrigerantes mega gelado, e descansar em alguma sombra. Chegamos em Itajaí e senti que o pneu traseiro estava instável, parei pra verificar e constatei que estava furado. Coincidentemente estava em frente a um posto de gasolina, fizemos a troca e já aproveitamos pra fazer um lanche, pois os problemas com sol forte e vento contra nos atrasaram bastante. Cada um mandou ver uma coxinha, algo que não foi uma boa decisão. O trio escolheu o mesmo salgado, logo veio as consequências, em mim e no Canela, a azia pegou e logo foi embora. O pior aconteceu com o Itamar, deu uma congestão que fazia o nosso amigo empalidecer e suar frio. Paramos nos postos a procura de farmácia, encontramos no posto Sinuelo, em Araquari. O cara vinha mal pelas ruas. Tomou um sal de fruta e foi como água, não fez o menor efeito. 







Já estava escuro, fizemos várias tentativas de prosseguir mas o Ita só piorava, ele até insistia em pedalar mas estava esgotado. Quando enfim chegamos em Joinville, próximo ao Eixo Sul, a situação piorou, ele precisava urgente por pra fora, ou iria desmaiar. tentei ligar pra ambulância da Auto Pista pra fazer o atendimento, nisso ele vomitou, sentou-se no acostamento e em dois minutos já se sentia melhor, pedalamos de volta, mas as forças já estavam no fim. Ele sugeriu que seguíssemos nosso caminho, mas jamais deixaríamos um amigo pra traz. Fomos acompanhando ele até o viaduto da Otto, ele ficou na casa da sogra ali pertinho, eu e o Canela seguimos até a Expoville onde minha esposa nos aguardava com as crianças.


Chegamos atrasados além do previsto, eram 23:00 horas percorremos nesse último dia 255 km, pegamos vento de Imbituba até Itajaí, depois amenizou. Chegar ao encontro da família e correr pro abraço foi sem dúvida o troféu da aventura. Agradeço a minha esposa Andreza pelo apoio, por ter nos levado até Lauro Muller, onde começou nossa jornada, agradeço aos meus filhos pela paciência,  o pequeno João não aguentou o calor e ficou só de cueca kkk. agradeço ao Canela por aceitar o desafio, ao Itamar por nos acompanhar nos últimos 190 km. No total da trip foram 560 km percorridos em três dias de viagem, 8,997 metros de elevação total e 1587 metros a maior subida. Encaramos a Serra do Rio do Rastro, depois o sobe e desce de Bom Jardim da Serra até Urubici, enfrentamos chuva, queda, quebra do selim. Depois foi a vez da Serra do Corvo Branco, com uma temperatura beirando o insuportável frio, neblina, lama, vento contra, foi um desafio enorme, mas valeu a pena e faria tudo novamente. Essa viagem foi a realização de um sonho e a prova de que com esforço podemos realizá-lo




Grande abraço e até a próxima aventura.

Um comentário:

  1. Dupla e Trio, parabéns pela jornada.
    Fizeram COISA nesses três dias, coisa que daria para fazer em cinco!!! Muita garra e determinação para vencer as estradas ALTAS nada fáceis.
    Muito bom mesmo.
    Que venham outros desafios.
    Ótimas fotos e uma narrativa muito boa.
    Parabéns!!!
    Att.,
    Marcelo
    www.pedaladas.com.br

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