quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Desafio das Serras e Litoral 2 º Dia

Renovados com a noite de sono na macia cama da pousada, no meu caso, uma cama de casal só pra mim, fomos interrompidos abruptamente pelos ecos do som do despertador. Preguiçosamente nos arrastamos da cama e em slow motion segui até o banheiro pra jogar uma água na cara, pra espantar a vontade de ficar mais uma hora na cama. Deixei o templo da preguiça pra lá e sem olhar pra trás, com receio que a cama me convencesse arrumei as bagagens nos alforges, damos uma lubrificada na sofrida corrente, e nem lavamos as bikes, descumprindo a promessa feita na noite anterior. Seguimos pra padoca parceira da pousada pra fazer nosso café. Ao chegar no local minha cara de admiração era percebida por todos. A faixada parecia um local simples, mas a variedade que era servida quase me convenceu a abortar o pedal e ficar ali comendo. Ainda mais que era na faixa. Comemos bem o suficiente pra ter energia porém sem pesar muito. Depois seguimos em direção à Serra do Corvo Branco, otimistas seguimos com a intenção de enfrentar a serra não importando a condição. Mas precisávamos desesperadamente encontrar um ciclista da região, que desse a notícia que tanto ansiávamos ouvir: a Serra está totalmente asfaltada. Como não sonhamos acordado, porque é perigoso cair da bike, bastava apenas dizer ao estilo Almir, dá pra passar tranquilo queridão. 


Enfim encontramos duas almas caridosas que salvaram nosso dia, dois ciclistas que viram nossas camisas com o nome da linda Joinville, falaram: estão um pouco longe de casa né, pronto ficamos os melhores amigos, já dizia um velho sábio das redes sociais, amizade de ciclista é igual miojo, fica pronta em três minutos. A primeira pergunta foi em relação às condições da serra. Com as informações da dupla a aventura estava garantida. Pedalamos umas centenas de metros com eles, e logo se foram, ficamos na entrada de acesso ao morro da Igreja, na dúvida se subiria ou não, devido a serração, o tempo ainda estava fechado. Encontramos um senhor, paramos pra conversar e percebemos que o distinto senhor mais se parecia um pajé de uma tribo indígena, depois de umas perguntas ele nos aconselhou a subir pelo menos até o véu da noiva. A cada ser que encontrávamos as perguntas iniciais se concentravam na serra. A resposta do cara foi pra arrancar risadas, só não o fizemos por respeito ao senhor. Ele perguntou: " a bicicreta de vocês é de marcha? então voceis pode ir tranquilo, eu já fui também e com uma bicicreta bem simpres". Quando perguntei a distância até o Véu da noiva ele me manda essa: "olha dá uns 5 km, mas com essas bicicretas aí nem dá tanto não".  kkkk exageros gramaticais a parte agradecemos e a uma distância razoável rimos até a barriga doer. Logo encontramos as subidas que nos levaria a um bom cansaço matinal. 







Depois de muitas subidas, encontramos uma placa que indicava forte aclive. Desnecessária essa informação, já estávamos subindo e não parava nunca. Percorremos 6,5 km até a Cachoeira Véu da Noiva, só subida. O local valeu muito a pena, lugar lindo, pagasse uma taxa de 5,00 pila pra visitação. Aliás, tudo em Urubici é 5,00 pila, menos a pousada. 






O recepcionista do local também é ciclista, e corroborou com a informação do Almir, dá pra descer a serra. Por falar em descer, tínhamos uma certeza, descer 6,5 km de volta até a rodovia, numa das curvas, descendo solto, encontro o casal de cicloturistas que conversamos no restaurante no dia anterior. Tava rápido de mais, cumprimentei e só ouvi o grito deles Joinvilleeeee. Em poucos minutos estávamos na planície novamente, e pra nossa surpresa encontramos o aspirante a pajé. 




Foi um desvio sofrido, as subidas são fortes, mas valeu a pena. 



Mais uma meia dúzia de giros do pedal, e acabou o asfalto juntamente com a água, parei numa igreja e fui procurar uma torneira, só achei uma mangueira, desconectei a junta da emenda, enchi as garrafas minhas e as do Canela. Quando tomei o primeiro gole, quase vomitei, acho que era água benta. Tava muito ruim. Estava na torcida pra encontrar um rio e trocar a água, por uma fresca.
Com a aproximação das montanhas o clima ia ficando mais frio, e também a serração ia ficando cada vez mais densa. Mas estávamos otimistas pra ver a fenda na Serra, a maior fenda feita por humanos no Brasil. Um paredão de 90 metros de altura. 

Continuando a séria expectativa versus realidade.


















O frio estava de doer, nos agasalhamos e descemos nas curvas do início tem asfalto, depois volta o estradão, segundo o pessoal local, a serra está com as obras de pavimentação atrasada uns três anos. Na verdade o que presenciamos não foi atraso, e sim abandono. Daqui pra frente só mesmo de moto ou carro 4x4 ou uma dupla de malucos de bike. Descida a serra que não é tão longa, a temperatura voltou a níveis suportáveis, o que me fez tirar o corta vento. A lama vermelha tomou conta do lugar. Sorte a nossa que os trechos de lama não eram muito longos, se alternavam em terra firme e lama. Mas alguns de lama ficava impossível pedalar. 



Emporcalhamos nossas sofridas bikes, a medida que chegávamos perto da localidade de Aiurê a estrada ia mostrando sinais de melhoras, até que chegou a níveis trafegáveis e de boas descidas. 




Paramos num rio pra lavar as bikes, a Monaliza nunca tinha visto tanta lama, depois seguimos um bom trecho sinuoso com subidas e descidas leves até a cidade de Grão Pará. Procuramos o Posto Ipiranga pra fazer um lanche, Achamos um Ipiranga de Araque. Com layout e cores totalmente diferente do padrão que conhecemos. Por um momento pensei que nos perdemos e fomos parar no Paraguai. Mas a fome não olha essas coisas. Comemos ali mesmo, sem questionar a legitimidade do local. Atravessamos a fétida cidade, com cheiro de porcos ou coisa parecida. Chegamos em Gravatal e paramos num legítimo Ipiranga, enquanto nos refrescamos com uns picolés notei o pneu traseiro furado. Fizemos a troca e enquanto isso os curiosos perguntando do nosso destino, a admiração era precedida da pergunta se estávamos pagando promessas. Na verdade sim, uma promessa feita a nós mesmos. 




Primeiro pneu furado da trip. percebemos a dificuldade em tirar a roda com as bagagens. A serra e a preguiça na hora de sair da cama, atrasaram nosso cronograma. A princípio nosso destino era a casa do terceiro elemento o Itamar em Floripa, porém vimos que seria impossível chegar na casa do amigo antes da madrugada. Paramos em Tubarão na avó do Canela, tomamos um café e encomendamos um pouso na casa do tio dele em Imbituba. 


De Shark City até Imbituba na casa dos parentes, tinha ainda uns 70 km que lutamos contra o vento do litoral, por uns momentos tentamos revesar a frente, porém não deu muito certo, o farol do Canela acabou a bateria, o negócio era ir um do lado do outro. Liguei pra patroa pra passar a situação, ela perguntou onde estávamos, falei: estamos 100 km atrasados, nessa hora o tempo não diz nada, o que manda é a distância.








Em Capivari de Baixo as paisagens antagônicas, de uma lado a estação de energia eólica, energia limpa, renovável, sustentável e barata. Do outro a Usina Termelétrica Jorge Lacerda com produção de energia cara, poluente e não renovável. Espero que o país siga a primeira.
Dali já dá pra observar a ponte Anita Garibaldi toda iluminada, e alternando suas cores em vermelho, verde e azul. neste trecho o vento piorou, por ser um local aberto. O vento pegou pela lateral e em alguns momentos chegava a desequilibrar.






Logo escureceu, quando chegamos nos tios do Canela já passava das 22:00 os últimos 60 km judiou bastante. A casa estava lotada, depois de um bom banho, conversamos sobre a louca trip, fomos dormir muito tarde, era mais de meia noite, teríamos um descanso rápido, pois às 04:30 horas da madrugada o relógio despertou sem dó. Pedalamos 180 km onde enfrentamos frio, lama e vento contra, mas persistia a esperança que no dia seguinte o vento sopraria a favor..... sabe nada inocente.

Um comentário:

  1. Incrível e minucioso relato srs. Jedbike. Parabéns pela trip. Uhuulll...

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