segunda-feira, 10 de julho de 2017

Desafio Volta de Piên

"Por que um dia é preciso parar de sonhar, tirar os planos das gavetas e, de algum modo, começar". (Amyr Klink). Lá pelos idos de 2014 trabalhei por quase um mês na cidade de Pien PR, fui cobrir as férias de um funcionário da empresa. Na época levei a bike, mas não senti muita segurança em fazer pedal noturno por aquelas bandas, então a usei como cabide no quarto do hotel. Mas fiz uma promessa pra mim mesmo que um dia retornaria pra pedalar por lá. E seguindo temática do grande aventureiro e navegador Amyr Klink, tirei os planos da gaveta, e incrivelmente, no mês de julho, que fazem três anos de minha passagem por Pien, retorno lá, mas em grande estilo, de bike. Este pedal era pra ter acontecido há uns quinze dias, mas fomos pegos com os contratempos da previsão de tempo que insiste em prever o oposto do que acontece. Remarcamos e a galera já tinha outros compromissos, restando a dura missão para eu e o Vagner. Na madrugada de sábado o som da chuva me acordou antes mesmo do despertador. Meio desconfiados que São Pedro estava de marcação com nosso pedal, resolvemos manter cronograma e decidir se abortaria no decorrer do pedal, que pra surpresa nossa, tiramos a capa de chuva já em Pirabeiraba. Largamos às 05:10 hrs, nosso projeto a qual denominamos "Desafio  Volta de Piên" consistia em subir a serra Dona Francisca, Campo Alegre, São Bento do Sul, Piên, Agudos do Sul, Tijucas do Sul e descida da Serra 376, Garuva e novamente a chegada na city. Logo na subida da serra dona Chica, passei mal, mas fui em frente, quando chegamos no mirante, tive a impressão de que iria desmaiar, apesar de estar bem alimentado e treinado, estava me sentindo muito fraco, me sentei num banco e reforcei o lanche, mas a náusea e a tontura estavam me preocupando, o Vagner perguntou o que eu queria fazer, falei pra continuar, em Campo Alegre iria avaliar se voltaria ou não, sorte a nossa que melhorei, a náusea e a tontura passaram, já podia pedalar tranquilo e cumprir a missão, só não me sentia muito forte. 






Recebemos a sugestão do Claudio do Restaurante Alto da Serra pra cortar por Fragosos, aceitamos a sugestão e andamos num estradão de terra por uns 12 km num lugar que valeu a pena pedalar, área rural, assim abandonamos o trecho de São Bento do Sul, quando pegamos a rodovia novamente já estávamos no estado vizinho o Paraná. Logo já avistamos a placa indicando Piên. As recordações vieram à tona, o sonho de pedalar ali estava sendo realizado, quem retorna de bike em um local que já foi de carro, sabe o que estou dizendo. É muito melhor ir no pedal. Chegamos na pequena cidade de colonização lusitana, paramos pra uma foto no pórtico e logo partimos. O almoço seria em Agudos do Sul.



Se no percurso até Piên já tinha morros, o pior ainda estava por vir, até Agudos do Sul, continuamos numa montanha russa sem fim. Na descida já avistávamos a subida logo adiante, e rodovia sem acostamento, ombro a ombro com os carros. Os 18 km's que separam as duas cidades foram muitos desgastantes. E justo nessas horas em que o ciclista começa a pensar onde foi se meter, num sobe e desce sem fim, morro que não acaba mais, recebe a proposta de uma carona num carro apoio, é nessas horas que todo o esforço e sofrimento faz valer a pena. Colocamos as bikes em cima do carro e ..... ops tem coisa errada que não tá certa. Nem queria carona mesmo, hehe.





Deixamos o carro pra trás, e seguimos em direção ao almoço, mas acabamos alimentando um "ser humaninho" faminto e abandonado, apesar da pelagem estar com brilho, o animal estava muito magro, desconfiado de nossa amistosidade, ele se aproximou quando o Vagner ofereceu uns bolinhos de frango, o pobre cachorro logo deixou o medo de lado e se aproximou mais e o estoque de bolinhos do Vagner foi devorado em poucas mordidas. Lamentamos a situação, o risco dele acabar morto na estrada era grande, saímos pensativos dali.




Chegamos em Agudos do Sul e fomos procurando um lugar pra comer, nossa passagem seria rápida, então comemos em uma panificadora, descansamos um pouco e logo partimos 'ao infinito e além' ou nem tanto. Pra nossa sorte os morros já não eram tão altos. 





A estrada entre Agudos e Tijucas do Sul, era boa, local muito bonito, paramos em uma panificadora pra comprar água, e pedimos informação sobre a distância até a rodovia 376, uma senhora nos falou que faltava 18 km. Ela contou que seu filho já foi ciclista, e respirou aliviada quando contou que ele trocou a bike por moto de trilha, nos desejou sorte e partimos pra tão sonhada 376.




Fizemos uma parada pra repor as energias quando chegamos no trevo da 376, dali pra frente teria a represa Vossoroca, umas subidas, a entrada do Morro dos Perdidos, e então a tão esperada descida da serra. 




Na descida esfriou bastante, pegamos até uns pingos de chuva, paramos no pedágio pra dar uma equilibrada no corpo, depois de uma overdose de adrenalina ultrapassando caminhões, tomamos uns cafés, cogitamos outros desafios, e depois voltamos pra estrada.



Tentamos manter uma constante próxima dos 30 km /h pra compensar as subidas, o cérebro queria, mas o corpo já não estava muito afim. Mas quem manda é a cabeça do ciclista e o corpo obedeceu até a entrada do Rio Bonito, ali o disjuntor caiu. A última parada programada era no pedágio, mas encontramos o Posto Rudnick no caminho e fizemos uma parada emergencial, comi um pastel, tomei um suco de milho e uma lata de Coca Cola, o Vagner falou pra sentar um pouco lá fora pra descansar. Eu relutei: que sentar nada, vamos embora antes que passe o efeito do refrigerante. Ele me emprestou a roda até o Garten, viemos novamente acima dos 30km/h, cansados mas loucos pra chegar em casa. 


Toquei naquela pegada forte nos últimos 5 km até em casa, chegando as 19:00 horas, coloco este pedal em meus Top 5 em dificuldade. Num dia de pedal de sobe e desce, onde passei mal, me senti fraco, o disjuntou cai. Fechei o dia com 225 km rodados e uma altimetria acumulada de 3333. Chego em casa e a esposa com as crianças estão esperando no portão, o coração não aguentou e chorei, de felicidade, de orgulho por não ter desistido e por estar ali sendo recebido pelos meus, foi um troféu. Agradeço ao Vagner pela parceria e por ter aceitado este louco convite e parabéns pelo grande ciclista que tu és, em apenas 8 meses de pedal já desbravou muitos km's de aventura.

Abraços e até o próximo pedal, tomara que não tenha morros.

Um comentário:

  1. Parabéns pela aventura. Esse percurso entre a 376 e Pien habita meu inconsciente a muito tempo, esse ano ainda sai... Parabéns novamente.

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